Seminário discute mudanças na coerência ideológica do eleitorado brasileiro

O Departamento de Ciência Política da USP recebeu, em sua programação de seminários, o professor Oswaldo Amaral (Unicamp), que apresentou uma pesquisa em andamento sobre o significado ideológico de “esquerda” e “direita” entre os eleitores brasileiros. 

A apresentação baseou-se na análise de surveys nacionais conduzidos entre 1989 e 2024, com o objetivo de investigar se houve mudanças na coerência entre o autoposicionamento ideológico e as opiniões sobre temas substantivos como democracia, economia e valores sociais. 

Segundo o autor, o estudo deve dar origem a um artigo acadêmico em coautoria com Lúcio Rennó (UnB), que também investiga fenômenos semelhantes.

Durante a exposição, Amaral explicou que a pesquisa busca compreender em que medida os rótulos de “esquerda” e “direita” fazem sentido para os eleitores e se passaram a se associar de forma mais consistente a posições sobre temas como desigualdade, papel do Estado na economia e valores sociais. O estudo também investiga quando esse processo de organização ideológica mais clara teria começado a se manifestar no eleitorado.

Os dados analisados indicam que, até 2018, o autoposicionamento ideológico no Brasil era marcado por baixa coerência interna. A partir daquele ano, no entanto, houve um aumento da proporção de eleitores capazes de se situar no espectro ideológico e de associar esse posicionamento a opiniões mais consistentes. Essa mudança é observada, por exemplo, na relação com opiniões sobre democracia, privatizações e o crescimento do apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, que passou de 36% em 2013 para 45% em 2024.

Amaral sugeriu que esse processo de maior estruturação pode estar relacionado à crescente polarização política entre as elites, especialmente durante e após a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018. 

Embora não se trate de uma mudança abrupta nas convicções dos eleitores, o contexto político teria ativado e organizado opiniões já existentes, conferindo maior coerência ao modo como os eleitores se identificam ideologicamente.

O seminário destacou ainda que, apesar desse alinhamento recente, permanecem abertas questões sobre a influência efetiva do posicionamento ideológico nas escolhas eleitorais, especialmente em pleitos majoritários. Para o autor, o voto econômico continua sendo um fator central no Brasil, mas agora opera em um ambiente em que esquerda e direita parecem ter ganhado mais significado na percepção dos eleitores.

Em resumo:

• A pesquisa analisa a coerência entre o posicionamento ideológico dos eleitores e suas opiniões políticas e sociais.

• Foram examinados surveys nacionais realizados entre 1989 e 2024.

• O estudo mostra que, até 2018, “esquerda” e “direita” tinham pouca ligação com posições concretas.

• A partir de 2018, esses rótulos passaram a se associar mais claramente a opiniões sobre democracia, economia e valores sociais.

• Um exemplo citado é o crescimento do apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, que subiu de 36% para 45% entre 2013 e 2024.

• O autor sugere que a polarização entre elites, especialmente após a eleição de Bolsonaro, ajudou a organizar essas percepções.

• A pesquisa ainda está em andamento e deve resultar em um artigo acadêmico em coautoria com Lúcio Rennó (UnB).

Perfil do Autor

Oswaldo Amaral é doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (2010). Em 2022, foi pesquisador-visitante no Institut des Hautes Etudes de L'Amerique Latine (IHEAL), vinculado a Sorbonne-Nouvelle (Paris III).  Desde 2012, é professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp. Entre 2014 e 2017, foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Unicamp.

FICHA TÉCNICA

Título: Há lógica na posição ideológica dos brasileiros?

Autor: Oswaldo Amaral

Ano de publicação: 2025

Realização: Departamento de Ciência Política da USP

Assista em: YouTube FFLCH-USP