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Estudo critica o uso tradicional do termo ‘violência urbana’ e propõe nova abordagem

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    publicabcp
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura


O artigo Por que ainda falar em violência urbana?, de autoria de Lara Caldas (UnB), propõe uma reconceituação crítica do termo “violência urbana”. A autora parte da constatação de que o uso predominante do conceito, tanto na academia quanto no debate público e na mídia, tem reforçado estigmas sobre grupos marginalizados e territórios periféricos. 


O estudo propõe deslocar esse entendimento, tradicionalmente centrado em narrativas criminalizantes, para uma abordagem que compreende a violência urbana como intrínseca às práticas de urbanização e às dinâmicas institucionais do espaço urbano.


Caldas realizou uma revisão sistemática da literatura brasileira sobre violência urbana, com base em artigos publicados em português e também em espanhol e inglês, desde que relacionados à realidade brasileira. Foram identificados 76 artigos, publicados majoritariamente após 2010, sendo 19 deles após 2020. A análise abrangeu publicações de diferentes áreas: Ciências Sociais, Saúde, Estudos Urbanos, Economia, Direito e Educação.


Entre os achados, destaca-se o uso difuso do termo, muitas vezes aplicado sem definição clara, e com frequência associado a fenômenos localizados em periferias urbanas, o que contribui para reforçar estigmas e invisibilizar outras formas de violência presentes na organização das cidades.


Reformulando os contornos tradicionais do conceito, a autora propõe compreender a violência urbana não apenas como ação criminosa, mas como resultado das dinâmicas institucionais e estruturais que moldam a vida nas cidades. Em diálogo com autores como Pavoni, Tulumello, Lefebvre e Bispo dos Santos, o artigo identifica três dimensões da violência urbana: i) a violência inerente aos encontros sociais nas cidades, expressão das tensões próprias da vida urbana; ii) a violência institucional e infraestrutural, visível na falta de acesso a serviços básicos, habitação adequada e mobilidade; e iii) a violência gerada por políticas públicas que reforçam desigualdades territoriais, como remoções, segregações e abandono de áreas periféricas.


A proposta apresenta uma nova definição do conceito, que pode servir de base para a formulação de políticas públicas voltadas à justiça social e para fortalecer discursos progressistas no debate sobre segurança e urbanização.


O artigo argumenta que o termo “violência urbana” tem sido amplamente mobilizado por setores da extrema-direita para justificar políticas repressivas, enquanto o campo democrático e progressista pouco tem disputado seu significado no debate público. Essa ausência abre espaço para que o conceito seja monopolizado por narrativas punitivistas, que associam a violência exclusivamente à criminalidade em periferias urbanas. 


A autora defende que disputar o imaginário coletivo sobre o termo é uma tarefa urgente e estratégica, propondo que atores políticos utilizem “violência urbana” para nomear fenômenos como deslizamentos, alagamentos, ausência de saneamento básico e ações policiais letais — práticas que impactam diretamente o direito à cidade. 


Inspirada na ideia de “guerra das denominações”, proposta por Antônio Bispo dos Santos, a autora argumenta que disputar o sentido do termo “violência urbana” é uma forma de enfrentar desigualdades sociais. Em vez de associar o conceito apenas à criminalidade, a proposta busca trazer à tona as violências produzidas por políticas urbanas excludentes, reforçando a necessidade de uma justiça territorial que garanta acesso digno à cidade para todas as pessoas.


Lara Caldas sustenta que o senso comum sobre o que é violência urbana não é fixo, mas disputável, e que essa disputa deve incluir os significados políticos do urbano e suas formas de organização. Ao reconhecer as múltiplas camadas de violência produzidas por práticas de urbanização excludentes e pelo planejamento seletivo das cidades, a proposta permite reverter o foco das análises e das ações para as condições concretas que colocam em risco a vida e os direitos das populações periféricas.


Perfil da Autora


Lara Caldas é doutora em Ciência Política na Universidade de Brasília  (UnB). Pesquisadora  de pós-doutorado  no  Programa  de  Pós-graduação  em Ciência Política na mesma instituição.



FICHA TÉCNICA

Título: Por que ainda falar em violência urbana?

Autores: Lara Caldas

Ano de Publicação: 2025


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