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Estudo mostra que apoio ao investimento estrangeiro cai diante de má conduta empresarial

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    publicabcp
  • 24 de set.
  • 3 min de leitura
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Comportamentos socialmente irresponsáveis de empresas estrangeiras influenciam a percepção pública sobre o Investimento Estrangeiro Direto (IED)? Este é o foco do artigo Beyond Jobs: When Citizens Reject Socially Irresponsible Foreign Direct Investment, de Carolina Moehlecke (FGV), Guilherme N. Fasolin (Vanderbilt University) e Matias Spektor (FGV), publicado na International Studies Quartely.


O estudo se baseia em um experimento conjoint, ou análise conjunta, que é uma técnica estatística de pesquisa que identifica como os consumidores valorizam diferentes atributos de um produto ou serviço. 


A pesquisa foi realizada em junho de 2022 com 2.000 brasileiros, em um cenário de inflação elevada, desemprego e saída de multinacionais do país. A questão central é se, diante de dificuldades econômicas, a população estaria disposta a aceitar investimentos de empresas associadas à corrupção ou a danos ambientais em troca da criação de empregos e salários mais altos.


Pesquisas anteriores já mostravam que fatores não econômicos, como nacionalismo e percepções de ameaça externa, influenciam as opiniões sobre o IED. No entanto, poucos trabalhos haviam examinado a reação do público frente a práticas irresponsáveis por parte de empresas estrangeiras. 


O artigo busca preencher essa lacuna ao avaliar simultaneamente dois tipos de conduta (corrupção e degradação ambiental) e ao analisar se a rejeição se mantém mesmo entre trabalhadores qualificados, tradicionalmente vistos como beneficiários do capital externo.

Os resultados mostram que empresas com histórico de corrupção ou de danos ambientais enfrentam forte rejeição por parte do público. A queda no apoio ao IED é expressiva e permanece significativa mesmo quando os cenários apresentados envolvem a geração de muitos empregos e o pagamento de salários acima da média nacional. 


Entre os dois fatores avaliados, a corrupção provoca níveis mais altos de rejeição do que a degradação ambiental. Além disso, a rejeição não se limita a grupos de baixa escolaridade: trabalhadores qualificados também se mostram contrários a investimentos de empresas associadas a essas práticas.


Para reforçar a consistência dos resultados, os autores realizaram testes adicionais. Diferentes formas de classificar os participantes (por escolaridade, setor de atuação ou formalidade no emprego) levaram a conclusões semelhantes, indicando robustez dos achados. Um experimento complementar do tipo lista foi conduzido para reduzir possíveis efeitos de viés de desejabilidade social, confirmando que as respostas refletiam opiniões genuínas. 


Mesmo entre grupos que, em teoria, teriam mais a ganhar com o IED, como trabalhadores formais ou empregados da indústria, a preferência foi por investimentos de empresas responsáveis, ainda que gerassem menos postos de trabalho.


As conclusões sugerem que a sociedade brasileira valoriza padrões éticos e ambientais na atuação de empresas estrangeiras, mesmo diante de cenários de crise econômica. Os autores indicam que políticas públicas mais exigentes em relação à conduta de multinacionais podem contar com apoio social, e que a reputação das empresas constitui um fator relevante para sua aceitação. Para além das implicações imediatas, o estudo abre espaço para novas agendas de pesquisa sobre como cidadãos equilibram benefícios econômicos e custos sociais em sua avaliação da globalização.


Em resumo:

  • O artigo analisa como comportamentos irresponsáveis de empresas afetam a opinião pública sobre investimento estrangeiro direto.


  • A pesquisa foi realizada em 2022, por meio de um experimento conjoint com 2.000 brasileiros, em um contexto de crise econômica.


  • Empresas associadas à corrupção ou à degradação ambiental enfrentaram rejeição significativa, mesmo quando geravam muitos empregos e salários altos.


  • A corrupção provocou maior rejeição do que o dano ambiental.


  • Até mesmo trabalhadores qualificados, que costumam se beneficiar mais do investimento estrangeiro, rejeitaram empresas com histórico de má conduta.


  • Os resultados sugerem que a sociedade brasileira valoriza padrões éticos e ambientais, o que fortalece a legitimidade de políticas públicas mais exigentes e iniciativas da sociedade civil.



Sobre os autores


Carolina Moehlecke é professora assistente na Escola de Relações Internacionais da FGV, em São Paulo. Sua pesquisa explora a economia política do investimento internacional, o papel do setor privado na formação e difusão de marcos regulatórios e as implicações das transformações atuais da globalização econômica para o Brasil e outros países em desenvolvimento.


Guilherme N. Fasolin é doutorando em Ciência Política na Vanderbilt University. Sua pesquisa foca na economia política comparada do desenvolvimento, com ênfase na política rural e ambiental no Sul Global.


Matias Spektor é professor titular na Escola de Relações Internacionais da FGV, em São Paulo. Sua produção acadêmica e voltada para políticas públicas aborda segurança internacional, política climática, violência política e a história e teoria da ordem internacional, com ênfase especial no Brasil, na América Latina e no Sul Global.



FICHA TÉCNICA

Título: Beyond Jobs: When Citizens Reject Socially Irresponsible Foreign

Direct Investment

Autores: Carolina Moehlecke, Guilherme Fasolin e Matias Spektor

Ano de Publicação: 2025

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