Votações na ONU sobre a guerra da Ucrânia revelam reconfiguração da ordem internacional
- publicabcp
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Estudo publicado este ano na Chinese Political Science Review analisa como as votações da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) em resposta à guerra da Ucrânia ajudam a compreender as transformações em curso na ordem internacional.
Assinado por Augusto Neftali Corte de Oliveira (PUCRS), Luana Margarete Geiger (PUCRS) e Edmund Terem Ugar (Universidade de Joanesburgo), o artigo The United Nations General Assembly in a Multipolar World Order: An Analysis of Roll Call Votes on UNGA Resolutions Addressing Russia’s Military Actions in Ukraine examina o comportamento dos Estados-membros durante a 11ª Sessão Especial de Emergência (2022–2023), convocada para tratar das ações militares da Rússia. A pesquisa mostra que as decisões tomadas nesse contexto não apenas expressam reações imediatas ao conflito, mas também refletem os rearranjos de poder característicos de um mundo multipolar.
O objetivo central do estudo é identificar os fatores que explicam a adesão ou rejeição às seis resoluções aprovadas pela AGNU que condenaram as ações russas. Em vez de se concentrar nas causas do conflito, os autores buscam entender como a comunidade internacional se posiciona diante de uma crise que simboliza o declínio da ordem liberal internacional.
Para isso, são formuladas seis hipóteses que relacionam o voto dos países a variáveis institucionais e geopolíticas, como pertencimento ao G77, recebimento de ajuda externa dos Estados Unidos, volume de comércio e cooperação militar com a Rússia, tipo de regime político e ideologia governamental. Essas variáveis permitem mapear como as características internas e externas dos Estados influenciaram seu comportamento na ONU.
Com base em modelos de regressão logística, a análise revela padrões consistentes de votação. Países do G77 e do Sul Global, especialmente aqueles com laços econômicos e militares mais estreitos com a Rússia, ou regimes classificados como não liberais, mostraram menor propensão a apoiar as resoluções que condenavam Moscou.
Em contraste, democracias liberais e países alinhados a alianças ocidentais (como os que integram a OTAN, a União Europeia e o G7) foram mais propensos a votar a favor. O estudo também observa que o recebimento de ajuda externa dos EUA não teve efeito estatisticamente significativo sobre o voto, o que pode indicar uma perda relativa de influência direta da política de cooperação norte-americana.
Os resultados apontam para um cenário em que as votações na ONU funcionam como indicador das tensões estruturais entre Norte e Sul globais. A pesquisa mostra que, ao contrário da expectativa de alinhamento automático com as potências ocidentais, diversos países do Sul adotaram posturas mais autônomas, buscando preservar flexibilidade diplomática e margem de manobra diante da disputa entre grandes potências.
A formação de consensos em torno de valores liberais e de uma ordem baseada em regras universais, segundo o estudo, torna-se mais difícil na medida em que se intensifica a pluralidade de interesses nacionais.
Nas conclusões, o artigo aponta que o caso da guerra na Ucrânia exemplifica a transição para uma ordem multipolar, na qual China, Rússia e Estados Unidos disputam influência sem estabelecer uma hegemonia estável. A Assembleia Geral da ONU surge, assim, como um espaço privilegiado para observar esse reordenamento, refletindo o enfraquecimento das antigas estruturas de liderança global.
Em resumo:
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Sobre os autores
Augusto Neftali Corte de Oliveira é cientista político e professor de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Possui doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Luana Margarete Geiger é professora de Relações Internacionais da PUCRS. Pesquisadora associada do Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais (NERINT-UFRGS). Doutora e Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS. Atuou como Diretora de Programas da Observa China entre 2024 e 2025 e como Coordenadora de Pesquisa entre 2023 e 2024.
Edmund Terem Ugar é professor de Filosofia na Universidade de Joanesburgo, na África do Sul.
FICHA TÉCNICA
Título: The United Nations General Assembly in a Multipolar World Order: An Analysis of Roll Call Votes on UNGA Resolutions Addressing Russia's Military Actions in Ukraine
Autores: Augusto Neftali Corte de Oliveira, Luana Margarete Geiger e Edmund Terem Ugar
Ano de Publicação: 2025
Disponível em: Chinese Political Science Review








