Estudo revela que apenas 3,5% dos conflitos familiares por motivos eleitorais no Brasil produziram rupturas efetivas entre as pessoas
- publicabcp
- 8 de abr.
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Atualizado: 24 de abr.

Apenas 3,5% dos conflitos familiares por motivos eleitorais no Brasil produziram rupturas efetivas entre as pessoas. É o que revela o estudo What explains election-driven family conflicts?, de Malu A. C. Gatto (University College London), João Gabriel R. P. Leal (Ensp/Fiocruz) e Débora Thomé (FGV), investiga os fatores que aumentam o risco de conflitos familiares motivados por eleições em contextos de alta polarização política.
Embora o tema tenha ganhado atenção na mídia, a pesquisa parte da observação de que ainda há pouca evidência acadêmica sobre como disputas eleitorais afetam relações familiares.
Diante desse cenário, os autores analisam o caso brasileiro, marcado por polarização intensa nas eleições presidenciais de 2022, para responder à seguinte pergunta: em que condições as eleições levam a rompimentos familiares?
Os autores utilizaram dados de uma pesquisa nacional com 2.501 respondentes, realizada logo após o segundo turno das eleições de 2022. Conduzido por meio de questionário online, o levantamento buscou identificar se os entrevistados haviam rompido laços com familiares por conta do pleito e, em caso afirmativo, quais características individuais estavam associadas a esse tipo de conflito. A amostra foi construída de forma a espelhar a população adulta brasileira em termos de gênero, idade, classe socioeconômica e região.
Os resultados indicam que os conflitos familiares motivados pelas eleições foram pouco frequentes entre os entrevistados: apenas 3,5% relataram ter rompido relações com ao menos um familiar em decorrência do pleito. Apesar da elevada polarização observada no cenário político nacional, a maioria das famílias manteve coesão nas preferências eleitorais, funcionando como verdadeiras “câmaras de eco”.
Mais de dois terços dos participantes afirmaram viver em núcleos familiares nos quais todos os membros apoiaram o mesmo candidato ou em que não havia informações claras sobre divergências.
Embora raros, os conflitos familiares não afetaram todos os grupos da mesma forma. O estudo mostra que pessoas lésbicas, gays e bissexuais tiveram probabilidade significativamente maior de romper laços familiares em contextos de divergência eleitoral. Mesmo quando se controlam outras variáveis, a orientação sexual permanece como um dos fatores mais associados à ocorrência de conflitos. No total, pessoas da comunidade LGBTQI+ representaram cerca de um terço dos casos relatados na amostra.
Os achados reforçam que, embora as eleições não tenham provocado rupturas familiares em larga escala, seus efeitos podem ser mais intensos para grupos historicamente marginalizados. Ao evidenciar como as disputas eleitorais podem representar custos sociais desiguais, o estudo contribui para os debates sobre polarização política, coesão social e os impactos específicos sobre minorias. Os autores destacam a importância de novas investigações que aprofundem a compreensão desses efeitos em diferentes contextos e grupos sociais.
Perfil dos Autores
Malu A. C. Gatto é professora do Institute of the Americas, University College London, Reino Unido. Doutora em Ciência Política pela University of Oxford e autora de diversos artigos acadêmicos sobre mulheres na política.
João Gabriel R. P. Leal é doutorando em Saúde Pública na Ensp/Fiocruz. Estuda, predominantemente, as questões determinantes das políticas públicas no Brasil. Atua nos seguintes subcampos: Gasto Social e Rendas Petrolíferas; Partidos Políticos e Financiamento de Políticas Sociais, com foco no Sistema Único de Saúde (SUS).
Débora Thomé é doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF). Pós-doc no Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (FGV Cepesp), com bolsa Fapesp. Vice-presidente da seção de Gender, Politics and Policy da International Political Science Association.
FICHA TÉCNICA
Título: What explains election-driven family conflicts?
Autores: Malu A. C. Gatto, João Gabriel R. P. Leal e Débora Thomé
Ano de Lançamento: 2025
Disponível em: Research & Politics, Vol 12 N. 1