O declínio do ideal de “homem profissional” e seus efeitos sociais e subjetivos
- publicabcp
- 25 de ago.
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Atualizado: 9 de set.

O artigo O declínio do ideal cultural de homem profissional na sociedade pós-industrial: consequências subjetivas e no laço social, de María Cecilia Ipar (Cebrap) investiga como o ideal cultural de “homem profissional” (modelo de personalidade construído em torno do dever e da identidade profissional) perdeu centralidade na sociedade contemporânea.
A autora analisa esse processo a partir da segunda metade do século XX, buscando compreender seus efeitos tanto nas relações sociais quanto na constituição da subjetividade. O estudo parte de uma leitura da modernidade feita por Max Weber e propõe uma reflexão interdisciplinar que articula sociologia, história cultural e psicanálise.
A trajetória desse ideal é reconstruída desde sua origem religiosa, no protestantismo reformado, até sua consolidação como uma referência secular na sociedade industrial. Segundo a autora, a noção de Beruf (vocação profissional) passou a organizar simbolicamente o sentido do trabalho e da posição social, influenciando profundamente a forma como os indivíduos construíam suas identidades e compreendiam seu lugar no mundo.
Na sociedade industrial, esse ideal sustentava não apenas a ética do trabalho, mas também valores de pertencimento coletivo e coesão social.
Esse cenário começou a se transformar a partir das mudanças estruturais do capitalismo nas últimas décadas do século XX. O avanço do neoliberalismo, a flexibilização do trabalho e o enfraquecimento do Estado de bem-estar social contribuíram para a perda de centralidade da profissão como eixo de identidade.
O artigo mostra que, com isso, houve uma ruptura na articulação entre o trabalho e a cidadania, acompanhada por formas crescentes de precarização e exclusão social.
A autora propõe ainda um diálogo com a psicanálise lacaniana para explorar os efeitos subjetivos desse processo. Um dos pontos centrais é o enfraquecimento da chamada “função paterna”, que opera como uma instância simbólica reguladora dos vínculos sociais.
Na medida em que a função paterna perde legitimidade, abre-se espaço para a ascensão de formas de subjetivação marcadas por exigências do prazer individual, autoexploração e insegurança afetiva, característicos do capitalismo atual.
Ao longo do texto, Ipar evita interpretar o declínio do ideal de “homem profissional” como um fenômeno isolado. Em vez disso, propõe compreendê-lo como parte de uma mudança mais ampla na cultura e na organização social, vinculada às exigências de adaptação do capitalismo contemporâneo. O artigo contribui para o debate sobre como os ideais culturais influenciam tanto a estrutura das sociedades quanto a constituição dos sujeitos.
Em resumo:
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Sobre a autora
María Cecilia Ipar é doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora de pós-doutorado do CEBRAP, no Núcleo de Direito e Democracia, sob supervisão do pesquisador Marcos Nobre (Unicamp).
FICHA TÉCNICA
Título: O declínio do ideal cultural de homem profissional na sociedade pós-industrial: consequências subjetivas e no laço social
Autora: María Cecilia Ipar
Ano de Publicação: 2025
Disponível em: Revista Brasileira de Ciência Política, n.44








