O meio ambiente na Ciência Política: caminhos da cultura política na América Latina
- publicabcp
- 25 de ago.
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Atualizado: 9 de set.

O artigo El medio ambiente como objeto político: aportes desde la cultura política para la construcción de una ciencia política posnormal en América Latina, de Sofia Isabel Vizcarra Castillo (UFRGS), Daniel Capistrano (ESRI/Trinity College Dublin) e Mariana Alves dos Santos (UFRGS), discute, a partir de uma revisão teórica narrativa, bases para compreender o meio ambiente como objeto político na América Latina.
O texto integra um dossiê sobre “Meio ambiente e sociedade na América Latina e Caribe” e foi elaborado no âmbito do projeto “Atitudes e Valores sobre Mudanças Climáticas e Transição Energética”, coordenado por Vizcarra. Entre os objetivos, os autores reconstroem a entrada do tema ambiental na Ciência Política, avaliam o potencial e limites do enfoque de cultura política no contexto regional e indicam temas para uma agenda de pesquisa.
O artigo situa o debate no contexto do Antropoceno e descreve dois movimentos que aproximam política e meio ambiente: (1) a politização das ciências exatas via ecologia política, com ênfase nas contribuições latino‑americanas sobre conflitos socioambientais, justiça climática e epistemologias locais, e (2) a incorporação do tema ambiental na teoria política (teoria política “verde”, relações internacionais e estudos sobre partidos verdes).
Nessa moldura, a ciência pós-normal é apresentada como abordagem deliberativa e baseada em valores, que trabalha com “comunidades ampliadas de pares” e amplia o diálogo entre ciência e sociedade, abrindo espaço para uma Ciência Política com base epistemológica mais plural na região.
Na tradição de cultura política, o tema ambiental ganha espaço nos anos 1990, associado à hipótese do posmaterialismo e testado com dados comparativos internacionais. Os autores resumem resultados contraditórios sobre vínculos entre riqueza, democracia e atitudes ambientais e destacam limitações recorrentes: instrumentos de medida culturalmente situados, foco utilitarista e alcance restrito para explicar preferências por ação climática na América Latina.
Embora programas como WVS/EVS/ISSP e barômetros regionais sigam sendo usados, a cobertura permanece centrada no Norte Global e pouco incorpora ontologias ambientais diversas.
Para o caso latino‑americano, o texto recorre à noção de cultura política híbrida (apoio difuso à democracia combinado a insatisfações institucionais) para discutir o “paradoxo da imaginação ecológica”: a distância entre uma tradição intensa de lutas socioambientais e a limitada influência dessas ideias sobre opinião pública e agenda governamental.
As pesquisas citadas indicam níveis elevados de preocupação com o aquecimento global e presença de otimismo e crença no efeito de ações individuais, ao mesmo tempo em que se observa, em contexto recente, menor disposição em priorizar a proteção ambiental em relação ao crescimento econômico. Entre as barreiras à influência social sobre políticas ambientais, os autores mencionam desconfiança institucional, tecnocratização da gestão e atuação de atores corporativos.
Como encaminhamento, o artigo propõe uma agenda de pesquisa em três frentes: (i) pluralidade ontológica e epistemológica, incorporando conhecimentos locais e justiça ambiental; (ii) desafio empírico, com instrumentos e métodos, qualitativos e quantitativos, alinhados a uma ciência com base em valores; e (iii) desafio teórico, com modelos sociotécnicos interdisciplinares que integrem natureza, tecnologia e sociedade.
Para políticas e comunicação pública, recomenda-se considerar fatores como confiança nas instituições, tendências autoritárias e expectativas em relação ao Estado ao desenhar estratégias de engajamento em ação climática.
Em resumo:
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Sobre os autores
Sofia Vizcarra Castillo é professora do Departamento e do Programa de Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Daniel Capistrano é pesquisador no Economic and Social Research Institute e Docente da Escola de Educação do Trinity University College de Dublin.
Mariana Alves dos Santos é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciência Política (PPGCP) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
FICHA TÉCNICA
Título: El medio ambiente como objeto político: aportes desde la cultura política para la construcción de una ciencia política posnormal en América Latina
Organizadores: Sofia Vizcarra Castillo, Daniel Capistrano e Mariana Alves dos Santos
Ano de Publicação: 2025
Disponível em: Debates en Sociología nº 60








